Três horas no busão pra fazer dez quilômetro
Trem lotado, ar quebrado, caos no perímetro
Peão acorda cedo, mal dormiu direito
Enquanto o dono da linha enche o peito e o cofre com jeito
A catraca gira, mas ninguém anda
A cidade empurra, o suor desanda
Salário não cresce, o tempo evapora
E o estresse vira vício que me devora
A empresa lucra, o peão se estrepa
Subúrbio ao centro, a alma se apequena
Trem parado às seis, aviso em loop no ar
“Desculpe o transtorno, mas ninguém vai te escutar”
O povo espremido, sem ar, sem espaço
Enquanto o CEO toma vinho em um terraço
Paga-se passagem como se fosse viagem
Mas é só humilhação em forma de paisagem
Cidade pra ninguém, sistema que escraviza
Enquanto eles ganham, o peão agoniza
Cada centavo que eles cortam do trilho
É minuto a mais no cansaço do filho
Chega no trampo já sem energia
O chefe cobra meta, mas nem viu a via
Que o trabalhador enfrenta todo santo dia
Pra fazer girar a roda dessa hipocrisia
E se reclama, é ingrato
Mas quem tá na cabine nem vê o impacto
De um trem quebrado, de um busão sem horário
Pra quem precisa chegar e não virar salário
Cidade sem alma, rota sem compaixão
Quem decide o trajeto nunca pega o busão
Meu tempo vale ouro, e não migalha
Cada atraso deles, é a minha batalha
Cidade pra ninguém, sistema que escraviza
Enquanto eles ganham, o peão agoniza
Cada centavo que eles cortam do trilho
É minuto a mais no cansaço do filho
Não tem glamour na vida de quem sua
Só promessa vazia e porta que flutua
Mas minha voz vai no alto do vagão
Porque peão também é gente, não só mais um botão
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